sábado, 26 de março de 2011

O PAULO DO NORTE SHOPPING

O tempo não pára mesmo, não é? Cazuza, inspiradíssimo declarava isso com sua voz adornada com acordes maravilhosos. Anos 80, ôôôôôôô, tempo bom, tempo da música, dos shows, dos shoppings no Rio. Mas eles, os grandes shoppings, com suas luzes e lojas, ficavam distantes dos subúrbios e era difícil acessá-los, até que  a notícia chegou: Vão fazer um shopping no Cachambi!


O Cachambi era um bairro perto do Méier, e ficava distante uns 20 min de Marechal, contando com a boa vontade do motorista do 650. Ele seria construído na Av. Suburbana, hoje, Av. Dom Hélder Câmara. O Norteshopping foi inaugurado em 1986.
Era fácil mesmo, pegava o Mal. Hermes x Eng. Novo no parque e saltava em frente. Numa dessas investidas fui até uma livraria recém-inaugurada, e achei que ela teria uns preços mais baixos. Queria ver os títulos, ver se tinha algo novo e a um preço que pudesse comprar, pois a vida de afinador de piano e estudante de engenharia, não era muito fácil. Entrei. Logo veio em minha direção um rapaz, claro, bem claro mesmo, olhos azuis e magro, vestia uma camisa de manga curta branca, gravata fina grená e calça preta:
- Olá, boa tarde, meu nome é Paulo, deseja ver algum livro?
(Não, amigo, eu quero uma picanha assada com alho e pouco sal, tem aí?)
- Ah, sim, estou procurando algum livro interessante, mas a grana está curta, sabe como é que é, né?
- Mas nós temos um livro aqui, excelente, e está num preço ótimo, parece que será uma série, tipo "As Brumas de Avalon"...
Fomos caminhando ligeiro até à banca de destino do tão elogiado livro. Minha mente ia livre olhando as capas (gosto muito de olhá-las) até que nos deparamos com nosso destino.
Paulo sorria largamente para mim deixando aparecer seus brancos dentes de vendedor em seu sorriso profissional.
O livro estava apoiado numa pequena estante de acrílico, em destaque. A capa tinha o desenho de uma cidade antiga vista de cima, Jerusalém, num fundo ode céu azul e com letras amarelas garrafais: OPERAÇÃO CAVALO DE TRÓIA.
Ele estendia suas mãos naquela posição de "leve, ele é bom" dos vendedores dos canais de venda da TV enquanto sorria pra mim com os olhos bem abertos.
- Este não, tem outra indicação?
- Mas, Alexandre, já tínhamos nos apresentado, esse livro é muito bom!
- Ah, mas tá caro e não dá pra mim, não... Disfarcei.
- Rapaz, você não sabe o que está perdendo. Este escritor é muito bom, est´fazedo sucesso na Europa.
Aí, perguntei já sabendo da resposta.
- Ele fala sobre o que?
- Ah, fala sobre Jesus Cristo e como ele vivia na época, uma visão diferente das que se tem hoje.
- Sei, mas não vou levar, não...
Meio que desapontado, provavelmente por perder a venda, começou uma outra conversa.
- Tá bom, que sabe na próxima? Tenho que ligar para minha esposa, casamos há pouco tempo, espera um pouco.
Esperei... Depois disso começamos a conversar sobre trabalho, o que fazíamos, gostávamos, ele estava construindo uma casa em Deodoro, perto de Marechal, e o sonho dele era ser gerente da loja.

Saí da livraria aliviado, tinha suado frio na hora que li o nome na capa, toda aquela história em Guapimirim voltou à minha mente, e olha que tinha sido difícil esquecer, mas estava apenas adormecido.
Nunca mais encontraria Paulo, ninguém mais me ofereceria "o livro" e asim a hitória teria acabado ali. Sim, teria se alguns anos depois eu não fosse ao Madureira Shopping.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.