segunda-feira, 28 de março de 2011

O PAULO DO MADUREIRA SHOPPING

E era a época do "boom" dos shoppings. Em qualquer lugar que tivesse um um terreninho e passasse ônibus em frente, de repente, de uma hora para outra aparecia um gênio da lâmpada, e... ZAAAAP..., de uma hora pra outra aparecia um shopping lá, como num passe de mágica.
Nem melembro mais o que tinha naquela esquina da Estrada doa Portela antes de 1989, só sei que depois das obras estava lá um prédio construído, cheio de lojas pronto para receber os ávidos
consumidores do subúrbio local e adjacências.

Às vezes ia lá para comprar camisas de gola Polo, tipo que gosto até hoje. Andava por aqueles corredores observando as vitrines para ver como eles faziam a arrumação delas.Gosto dessa arte, a de atrair pessoas por sugestão com alguns objetos inanimados. Manequins colocados propositalmente num ângulo, numa posição, mostrando como suas roupas são lindas e que você pode ter uma daquelas também, skates voadores, pendurados, prontos para um 960°, como se voassem em nossas mentes numa pista imaginária, linda arte.
Num desses dias vi, em frente à praça de alimentação do térreo, uma nova loja, era uma livraria.
Entrei. Era uma loja, não muito grande, as prateleiras eram dispostas em "L", pois viravam para a parte menor da loja para aproveitar espaço. Assim que entrei, logo um vendedor veio ao meu encontro.
- Olá, como você vai? Perguntou ele...
Era o Paulo, pude confirmar isso pelo nome escrito em sua plaquinha no peito, dourada, agora, diferente da preta com letras brancas usada pelos outros vendedores.
- Ué, você aqui?
- Ah, sim, vim transferido de lá... Eu pedi pra vir, me mudei para Deodoro, moro por aqui agora e fica melhor trabalhar mais perto de casa, né... Mas... Qual livro você vai querer hoje?
Antes que eu respondesse, ele já foi respondendo por mim.
-  Lembra aquele livro que falei pra você?
Sim, sim, eu lembrava do nome dele, nunca esqueci.
- Pois é, já comprou?
- Ah, não quero, não...
- Mas está barato, rapaz, é um "bestseller"... Olha, só NCR$ 23,50...
Naquela época a moeda brasileira era o Cruzeiro Novo.
- Não, não quero...
- Olha, vou fazer o seguinte, vou dar um desconto pra você, ele vai sair por NCR$ 20,00...
- Puxa, Paulo, obrigado, mas não dá, não... Queria até comprar, mas não dá...
- Vamos fazer o seguinte, agora eu sou sou o sub-gerente aqui e posso fazer um desconto especial pra você, dezessete cruzeiros novos e cinquenta centavos, tá bom assim?
Bem... Com aquela boa vontade toda, mais o desconto e o cara sendo tão prestativo assim, resolvi levar o livro. Nos encaminhamos até o caixa.
Temos que fazer uma pausa para que eu "atualize" você àquela época. Não havia computadores, as máquinas registradoras tinham números com "leds" verdes, o que era o máximo. As notas fiscais para trocas, muitas vezes eram feitas à mão, notas de balcão, nada de notinhas amarelas feitas de papel foto sensível. Curiosamente ele quem foi comigo finalizar a venda, não repassou a nenhum vendedor.
Paramos no balcão, ao lado do caixa, perto do telefone.
Ele escrevia rápido na nota.  Alguns minuto após ter iniciado o telefone tocou e Paulo atendeu:
- Alô... Oiiiiiii, tudo bem? Siiiiiiiiim, siiiiiim...
Continuei esperando, as expressões dele haviam mudado para algo mais distante.
- Sei, sei... Não, tá tudo bem, tudo resolvido... Siiiiiiim, tá levando, sim... Pode deixar comigo, to terminando...
Mesmo que eu não quisesse, por estar perto acompanhando a nota, não pude deixar de ouvir a conversa e curiosa e instintivamente completa as perguntas vindas do outro lado da linha em minha mente.
Ele acabou de preencher a nota me entregou e mandou que eu entrasse na fila para pagar, não entedi o por que do fim da amabilidade. Entrei na fila, paguei e me despedi, segui meu caminho com o Cavalo de Tróia nas mãos.
Naquela época trabalhava na Gávea e o percurso era demorado, comecei a ler o livro, as palavras vinham em minha direção agradáveis. A história de ficção onde dois astronautas viajam no tempo e ao escolher qual personagem visitariam Jesus Cristo, era impressionantemente bem descrita em seus mínimos e ricos detalhes. Seus cálculos de teletransporte e a teoria dos "swivels" mexia com meu imaginário. Lia o livro com um prazer acompanhando aquele história fascinante.
Tarde daquelas resolvi retornar ao shopping para agradecer ao Paulo, meu amigo subgerente. Não sei se falei, mas o turno dele era à tarde.
Cheguei lá, e como sempre, veio logo um rapaz me atender. Moreno, baixinho, com sua gravata vinho e a plaquinha dourada no lado esquerdo do peito, parecia o Carlton:
- Olá, boa tarde...
- Boa tarde, o Paulo está?
Ele olhou pra mim... E perguntou:
- Paulo? É vendedor? Não conheço nenhum Paulo aqui, não.
Respondi que não, que ele tinha vindo do Norte Shopping, que agora era sub-gerente e que havia comprado um livro com ele e que queria conversar.
- Não conheço nenhum Paulo aqui, não.
Ele olhou para o lado, para o outro, com a mão no queixo, virou-se para a caixa, que era a mesma da época que eu tinha feito a compra e gritou:
- FULANA!!!!!!!!!!! VOCÊ CONHECE ALGUM PAULO QUE TRABALHOU AQUI?
Ela deu um não meneando a cabeça.
Ele virou-se continuando a conversa.
- Olha, não tem nenhum Paulo aqui, não. Nenhum vendedor.
Gelei.
- Mas ele é sub-gerente.
- Olha, desde que a loja começou, eu estou aqui e sou o sub daqui...
Não entendendo nada,continuei:
- Mas quando estive aqui ele disse que era sub-gerente, talvez ele esteja de folga..
Aí ele disse como que quisesse concluir a conversa:
- Olha, aqui nunca trabalhou nenhum Paulo, não veio ninguém transferido do Norte, a não ser eu, que vou ser efetivado gerente daqui a alguns dias, e sou eu quem faz as contratações.
Silêncio pensativo...

Ia me despedindo meio aturdido com a história, e o rapaz deve ter visto em meu rosto o que ele julgou ser decepção, mas era um não saber o que estava acontecendo que eu transpirava.
Quando me virava para sair, com minha humilde sacolinha plástica onde estava o Tróia 1, ele veio e perguntou:
- Você não quer levar um livro bom, aqui, não? Está com desconto.
Novamente o ritual do caminho à prateleira aconteceu. Quando me mostrou o livro a capa surgiu:
OPERAÇÃO CAVALO DE TRÓIA 2 - A SEGUNDA VIAGEM...
Desta vez não ofereci resistência, comprei o segundo da série, e continuei lendo até o oitavo.
 Este assunto ficaria adormecido até aquela noite em que nos encontramos para conversar após a janta no trabalho, mas isso fica para a próxima.





sábado, 26 de março de 2011

O PAULO DO NORTE SHOPPING

O tempo não pára mesmo, não é? Cazuza, inspiradíssimo declarava isso com sua voz adornada com acordes maravilhosos. Anos 80, ôôôôôôô, tempo bom, tempo da música, dos shows, dos shoppings no Rio. Mas eles, os grandes shoppings, com suas luzes e lojas, ficavam distantes dos subúrbios e era difícil acessá-los, até que  a notícia chegou: Vão fazer um shopping no Cachambi!


O Cachambi era um bairro perto do Méier, e ficava distante uns 20 min de Marechal, contando com a boa vontade do motorista do 650. Ele seria construído na Av. Suburbana, hoje, Av. Dom Hélder Câmara. O Norteshopping foi inaugurado em 1986.
Era fácil mesmo, pegava o Mal. Hermes x Eng. Novo no parque e saltava em frente. Numa dessas investidas fui até uma livraria recém-inaugurada, e achei que ela teria uns preços mais baixos. Queria ver os títulos, ver se tinha algo novo e a um preço que pudesse comprar, pois a vida de afinador de piano e estudante de engenharia, não era muito fácil. Entrei. Logo veio em minha direção um rapaz, claro, bem claro mesmo, olhos azuis e magro, vestia uma camisa de manga curta branca, gravata fina grená e calça preta:
- Olá, boa tarde, meu nome é Paulo, deseja ver algum livro?
(Não, amigo, eu quero uma picanha assada com alho e pouco sal, tem aí?)
- Ah, sim, estou procurando algum livro interessante, mas a grana está curta, sabe como é que é, né?
- Mas nós temos um livro aqui, excelente, e está num preço ótimo, parece que será uma série, tipo "As Brumas de Avalon"...
Fomos caminhando ligeiro até à banca de destino do tão elogiado livro. Minha mente ia livre olhando as capas (gosto muito de olhá-las) até que nos deparamos com nosso destino.
Paulo sorria largamente para mim deixando aparecer seus brancos dentes de vendedor em seu sorriso profissional.
O livro estava apoiado numa pequena estante de acrílico, em destaque. A capa tinha o desenho de uma cidade antiga vista de cima, Jerusalém, num fundo ode céu azul e com letras amarelas garrafais: OPERAÇÃO CAVALO DE TRÓIA.
Ele estendia suas mãos naquela posição de "leve, ele é bom" dos vendedores dos canais de venda da TV enquanto sorria pra mim com os olhos bem abertos.
- Este não, tem outra indicação?
- Mas, Alexandre, já tínhamos nos apresentado, esse livro é muito bom!
- Ah, mas tá caro e não dá pra mim, não... Disfarcei.
- Rapaz, você não sabe o que está perdendo. Este escritor é muito bom, est´fazedo sucesso na Europa.
Aí, perguntei já sabendo da resposta.
- Ele fala sobre o que?
- Ah, fala sobre Jesus Cristo e como ele vivia na época, uma visão diferente das que se tem hoje.
- Sei, mas não vou levar, não...
Meio que desapontado, provavelmente por perder a venda, começou uma outra conversa.
- Tá bom, que sabe na próxima? Tenho que ligar para minha esposa, casamos há pouco tempo, espera um pouco.
Esperei... Depois disso começamos a conversar sobre trabalho, o que fazíamos, gostávamos, ele estava construindo uma casa em Deodoro, perto de Marechal, e o sonho dele era ser gerente da loja.

Saí da livraria aliviado, tinha suado frio na hora que li o nome na capa, toda aquela história em Guapimirim voltou à minha mente, e olha que tinha sido difícil esquecer, mas estava apenas adormecido.
Nunca mais encontraria Paulo, ninguém mais me ofereceria "o livro" e asim a hitória teria acabado ali. Sim, teria se alguns anos depois eu não fosse ao Madureira Shopping.

sexta-feira, 18 de março de 2011

OPERAÇÃO CAVALO DE TRÓIA 1


Então, tá... tem algumas coisas que ficam até difíceis de contar, mas mesmo assim, conversando com o Hélio ontem (o Hélio é um empresário, criador do ESTÁ NO VALE, um Catálogo Eletrônico de Negócios, Empresas e Atividades de São José dos Campos, muito bom, pode acessar www.estanovale.com) falamos sobre alguns "causos" acontecidos. Já contei essas histórias para algumas pessoas e nunca me preocupei em saber se elas saíram do papo acreditando. Sei que você mesmo(a) já  passou por alguma situação em que as pessoas duvidaram, mas bem, você sabe que elas aconteceram,  não é? É assim que vou narrar para você, como se contando ao vivo, o que aconteceu.
Com 20 anos, a vida era uma festa, se bem que aos 15, algumas coisas estranhas já haviam acontecido, mas ainda não tinha me dado conta de que elas eram estranhas. Pra mim era tudo normal, e foi assim que fomos para Guapimirim, que quer dizer, Nascente Pequena.
Guapi, como é mais conhecida, é um município localizado na Baixada Fluminense, na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, fica pertinho de Teresópolis, no pé da serra. O povo original de lá, descendentes dos índios Tamoios, é simples. Faz tempo conseguiu a emancipação de Magé, o que proporcionou aumento na qualidade de vida da população. Existe, lá, uma peculiaridade: Tem a fama de ser aeroporto de discos voadores.
Não me lembro de como fomos até acidade, eu, minha namorada na época, e Marcos, o Malco, primo dela, mas acho que fomos de trem. Era o meio mais fácil e rápido na época, acredito. Se foi assim, pegamos o trem em Marechal, descemos em Deodoro, pegamos o Japeri, saltamos em Paracambi (tá lembrando do samba do Zeca?) e de lá ficamos na estação de Guapi.
Seria a Festa Junina da rapaziada da igreja no sítio da Sonia. Ela adora promover festas. Balões, fogueira, pescaria, brincadeiras e brindes, tudo nos padrões de uma festa Junina, como deveria ser. Depois de muita diversão, noite já avançada, começamos a nos reunir para o papo na varanda antes do sono merecido. A varanda era daquelas de casas do interior mesmo, com aquela meia parede que você fica sentado e conversando horas a fio. Fomos chegando, eu e ela, para o meio da turma. Lá tinha um senhor, de uns 45 anos, no entro da conversa. Ele estava falando sobre Jesus Cristo, expondo sua opinião sobre o dinamismo e caminhadas do Mestre. Nós, muito jovens ainda, calados, escutávamos com atenção, por que a visão dele era diferente. O Jesus que ele narrava, brincava de pique nas ruas, tirava onda no Mar da Galiléia, jogava bola,  isto é, fazia coisas comuns como nós, pensamentos que na minha época infantil não eram fáceis de se ter em nossa imaginação (quero salientar aos mais jovens, que antigamente as histórias e milagres de Jesus não eram apresentadas em DVD's, e muito menos em HD e Blu-Ray Disc, era no flanelógrafo (você sabe o que é um flanelógrafo? Pergunte aí ao seu avô) com aquela estampa paradinha e com a mão para o alto até terminar a história, se ele precisasse se mexer, tipo, andar ou ajoelhar, era simples, só trocvam para a figura respectiva ao momento (tia Cici, viva em minha memória, era mestra nisso, eu adorava). Ele continuou falando, falando, e o pessoal aos poucos foi saindo, até lá pela meia noite, e aí só restamos eu, minha garota e ele. Num repente, a deserção inesperada:
- Vou ali e já volto... Ela disse.
Saiu rapidamente e ficamos sozinhos.
Até aí, nada demais, tudo normal, as coisas começaram a modificar quando ele começou a aprofundar a conversa.
- Sabe, Alexandre (naquela época usava um "l" só), Jesus tem uma luz especial...
Sim, eu sabia disso, mas não sei por que aquele papo estava me deixando meio desconfortável, comecei a achar que não ia acabar muito bem. Ele continuou, mas passou para outro assunto: Os ET's.
Não tinha problema, afinal, eu já havia visto "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (1977) e aquele filme do Spielberg, no qual o menino passa pela Lua voando numa bicicleta com um bichinho feio na cesta, (E.T., 1982) em que aquele ser, de 1,5m de altura, fala repetidamente: E.T... fone... home...
Estava preparado, e ele começou assim:
- Sabe, os alienígenas estão entre nós há muito tempo, eles vivem em colônias aqui na Terra.
- Mas, como isso?
- Ah, eles aterrisaram, gostaram daqui e resolveram ficar pra ajudar..
- ????????
- Mas, não fique espantado, não eles não querem o mal da Terra..
Espantado, eu?!?!?!?!, nãããããão, eu estava era aterrorizado, suando frio com aquele cara falando aquilo pra mim, cara, era meia noite, tenha dó... Eu olhava pra um lado e pra outro e ninguém vinha me ajudar....
- Mas, puxa, como é que eles vão andar pelas ruas? Perguntei, não dá, as pessoas vão logo ver que não são de outro planeta.
Me diz uma coisa, você já se arrependeu de fazer uma pergunta idiota? É como se a resposta fosse um trem bala à toda velocidade vindo em sua direção sem freio e você, na frente dele, com um escudo de isopor e com aquela cara de "um burro olhando pra um palácio" (by Da. Zilda, minha avó) sentindo o estrago em andamento.
- Bom, Alexandre, disse ele (sentia calafrios quando ele falava meu nome e toda hora ele repetia), eles podem se disfarçar para se infiltrar na população.
- Como assim? (CALA ESSA BOCA MANÉ!)
Aí ele começou a descrever como. Tenho uma sugestão: Leia o trecho abaixo, fazendo os movimentos descritos pra sentir o efeito do que ele dizia à 1 hora da manhã.
- Bom, (apresentando a palma da mão perto do meu rosto) eles podem ter quatro dedos e implantar um (falava isso enquanto simulava aparafusar seu dedo mínimo na palma da sua mão direita), podem ter três olhos e tapar um (disse esta frase tapando o meio da testa com a mão)...
Nesta senti arrepios, pensei que tinha acabado, mas a pior das frases ainda estava por vir.
Ele falou, depois de uma pausa longa, por que ele falava tudo isso fazendo pausas, disse:
- Eles podem estar conversando com você agora, neste momento e você nem perceber isso... E ficou olhando pra mim fixamente.
Pausa longa, beeeeem loooooooooonga...
- ??????????????????????????????????????
Olha, só, nessa hora, não teve jeito, chamei a menina pra ficar comigo ali, pra não sair correndo.
Ele viu que ela já chegava e foi terminando a conversa assim:
- Bom, hoje recebi uma mensagem (???), quer dizer, um telefonema, e me deram a  missão de encontrar uma pessoa nesta festa, e essa pessoa é você, Alexandre. Minha missão já foi cumprida. Nós temos uma reunião no prédio da Av. Chile, no centro, no prédio de uma grande empresa brasileira (reservo-me o direito de preservar o nome da empresa na qual eles se reuniam), no quinto andar, todas as Quintas, às 19h e você está convidado para participar com a gente dessas reuniões sobre UFO's, eles(?) estão esperando você (como assim eu?!?!). A menina estava mais perto e ele continuava rápido:
- Até lá, leia o livro "Operação Cavalo de Tróia 1", é um bom livro do J. J. Benitez, mas você tem que lê-lo, Tô falando rápido, mas sei que você não vai esquecer do nome.
Este era o complemento do recado.
Quando ela chegou eu estava gelado e a abraçava de forma que ela ficasse bem perto de mim. Ele sorriu, olhou pra mim, se despediu e foi andando na direção do portão. Aí ela perguntou:
- O que aconteceu? Você está gelado...
- Nada, nada, nada não... 
Saímos dali e fomos dormir, isto é, só ela conseguiu dormir, né.

Acordamos, e eu louco pra sair daquele lugar. Tomamos café, e aí sim me lembro bem, voltamos de trem. Marcos fazendo as brincadeiras de sempre, quase perdendo o trem em cada estação que ele parava, pois saltava dava uma volta lá fora e voltava entrando no vagão com o trem já em movimento, ela rindo das palhaçadas do primo e eu só olhando da porta do trem "macaquinho", aquele feito de madeira e é puxado por uma locomotiva, que não fechava as portas.
Mas um coisa não saía da minha cabeça, mesmo que lutasse para esquecer:
Operação Cavalo de Tróia 1.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A FESTA DA APOSENTADORIA

Depois de ter comido um enroladinho de queijo e presunto (aqui em São José eles chamam de pizza enrolada) como café da manhã, após quase ser premiado por um engano fatal, peguei a kombi em direção ao Bairro Adriana. Estava tranquilo, o dia quente e Campo Grande mais quente ainda, já pela manhã.
Cheguei na casa do pastor e Da. Celeste logo meu recebei no portão com seu invariável "Oxi minino, riririririri...".  Tirei o tênis, deixando-o do lado de fora, e entrei. Ela estava meio preocupada pois dissera a ela que chegaria lá pelas 7h e já passavam das 9 da manhã então comecei a contar o fato ocorrido na rodoviária de madrugada. À medida que ia contando via as expressões de espanto no rosto deles e só então comecei a perceber pelo que tinha passao, literalmente "caiu a ficha". Ela perguntava como foi isso? Você não ficou nervoso? Não tinha polícia lá? Uma atrás da outra, e o pastor só olhando... Ao final da série inquisitiva ele disse:
- Vamos agradecer a Deus pelo seu livramento.
  Em seguida oramos e agradecemos.


Passamos aqueles dias conversando. Fomos fazer compras, demos uma passeada no shopping, uma rotina comum.
Já estava preocupado com a falta de grana e comentava com ele isso durante as andanças, pois um depósito que deveria cair quinta na minha conta não havia ocorrido, e já era sábado. Fomos ao supermercado e na volta comentei com ele:
- Puxa vida, como vou fazer, tô sem dinheiro...
Ele olhou pra mim, parou seu Uno vermelho, quer dizer, um Uno quase vermelho, por que a pintura já estava bem queimada e perguntou:
- Quanto você quer pra cantar na festa da minha aposentadoria?
- ??????????????????????
Sabe, algumas pessoas que vão apresentar-se em alguns lugares só vão se forem bem pagas. A amizade e amor pelo que faz ficam esquecidos num canto. As igrejas não fogem disso. Não sou contra a ajuda, oferta, cachê, qualquer nome que se queira dar a este pagamento, ao artista pela apresentação na igreja, a ajuda é necessária, mas sim, desaprovo quando isto é colocado acima da missão dada por Deus de levar uma mensagem a alguém que precisa ouvir, por isso não me limito.


Olhei para ele, sem pensar muito, e respondi:
- Não quero nada, não, a não ser sua amizade, que já tenho... 
Continuei, sem sentir o que falava:
- Ainda vou dizer mais uma coisa, o senhor vai pastorear uma outra igreja...
Novamente a expressão desacreditada, pois a situação dele não estava nada boa.

A festa foi ótima, todos bem festejaram, ele falou pouco e fomos para casa.

Hoje, três anos depois, Paulo é pastor numa igreja perto de sua casa, sua hepatite foi curada, e ele anda pra lá e pra cá com sua bicicleta.

terça-feira, 15 de março de 2011

O RAPAZ PRECISAVA TRABALHAR

O Pastor (Pr.) Paulo iria, finalmente se aposentar...
Após muitos anos de ministério, viagens missionárias, passando frio e dificuldades, ele iria encerrar seu trabalho pastoral. Não foi uma simples escolha, nem o desejo de descansar, mas a hepatite incurável, em fase crítica, e a diabetes, consumiam suas forças. Vi todo seu cansaço bem de perto, pois trabalhamos juntos na Igreja Batista Vila São Jorge, hoje, IB Nova Canaã, situada na comunidade do Pára Pedro, em Colégio, durante cinco anos, no Ministério de Música.
Dona Celeste combinou de fazer uma festa para comemorar este acontecimento, isso não podia passar em branco, mas seria uma comemoração com tristeza, pois temíamos que o pior se aproximava.
Tudo marcado e tratado, dia 14 de Março de 2008 eu iria cantar uma música que compus especialmente para ele. Pesquisei muito sobre sua vida, seu relacionamento com os pais e usei parte da música folclórica que conhecemos "...como poderei viver? como poderei viver?..." É como poderíamos viver sem a presença dele naquele simples púlpito. Mesmo com dores estava sempre lá, era sua vida.
Com as fotos selecionadas fizemos um vídeo e sincronizamos tudo com a música, que seria ao vivo, montamos o filme debaixo do nariz dele (santo movie maker).
Saí daqui de São José na quinta, a festa, seria no Sábado. Peguei o ônibus às 23:59h, não às 00:00h, mas às 23:59h, vá entender isso... Entrei, e pelos cálculos chegaria ao Rio lá pelas 04:30h. Fui com o dinheiro só para pegar o ônibus da Novo Rio até Campo Grande, dez reais, e fiz como ele havia explicado:
- Pega o ônibus, salta na estação de Campo Grande, pega a kombi, salta no Bairro Adriana, é pertinho.
Lá fui eu, feliz, acreditando nisso...


Descemos na rodoviária no horário previsto. Atravessei a Rodrigues Alves por baixo da passarela, como é costume do pessoal, e me dirigi ao ponto com cautela, pois ainda estava escuro e ali não é uma área muito recomendável neste horário, embora muitas pessoas estivessem no ponto.

Parei e fiquei esperando o Magarça passar. De repente, ouvi uma voz:
- E aí, como está a vida em Minas Gerais?
A voz era grave, meio gutural, com um certo tom de agressividade, e vinha da boca de um rapaz negro, forte, barba por fazer, que estava com a mão dentro de uma mochila vermelha que pendia em seu tórax.
Virei-me e respondi:
- Não tô vindo de Mina, não, tô vindo de São Paulo...
- Não, você tá vindo de Minas... Ele disse.


Passei a mão no meu rabinho de cavalo, eu usava na época,  estranhei aquilo e respondi:
- Não tô vindo de minas, não, tô vindo de São José dos Campo, São Paulo.
O cara, de repente, do nada, começou a pedir desculpas e eu não entendia nada com aquela chuva de pedidos de perdão em cima de mim. Ele não falava a palavra perdão exatamente, ele conectava umas frases continuamente que signifavam que estava muito arrependido, não me lembro qual eram as palavras.
Ele então sentou-se numa da bases de carga portuária (a rodoviária fica perto do porto da Pça. Mauá) e passva a mão no rosto, como que preocupado.
Fiquei intrigado, achando que tinha sido mal educado com o rapaz ou mal entendido, afinal ele só me perguntou se eu chegava de uma cidade de onde eu não vinha... Achei que talvez tivesse sido grosseiro e fui sentar-me ao lado dele para apagar a má impressão. Ajeitei meu violão que estava em minhas costas e sentei ao seu lado pra mostrar que não havia me importunado. Assim que me sentei começamos uma conversa:

- Pô, cara, quer dizer que você tá vindo de São Paulo, São José dos Campos?
- É, moro lá há quatro anos.
- E como é que é lá, é bom pra trabalho?
- Bom, o dinheiro rola bem lá...
Aí me interrompeu e reiniciou com aquela avalanche de pedidos de desculpas e perdão, parecia uma ladainha, sempre com a mão dentro da mochila, agora em seu colo. Assim como começou ele parou, acho que ele não aguentava mais (nem eu) e disse olhando pra mim:

- Cara, eu ia te matar!
Aí, puxou de dentro da bolsa uma pistola, pra mim parecia prateada, mas acho que neste momento, e nem naquele, a pintura dela não é interessante.

- Você é "igualzin" a um cara do Morro dos Macacos "igualzin", até o rabinho de cavalo!

Bem que minha mãe não gostava dele
- É mesmo? E o que que esse cara fez?
- Rapaz, o cara, detonou  uma menina lá e o chefe falou que ele ia chegar agora de manhã aqui na rodoviária e eu ia pegar você.
- Aaaaaaaaaaah, respondi, vacilou no morro tem que matar mesmo (ou você acha que eu ia discordar?)

- Afinal o que é que você veio fazer aqui? Perguntou ele.
- Ah, eu vim cantar na aposentadoria de um pastor amigo meu, e...
- Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiih, ainda é irmão!!!!!!!!!!! Puxa, vida, ia errar duas vezes, os caras lá am me detonar, matar o cara errado e ainda irmão, xiiiiiiiiiiii..."tava" perdido... Mas cara, quando você falou comigo eu senti que você não era ele(graças a Deus), ele não fala assim...

Antes de continuar deixa eu explicar os arredores da Rodoviária Novo Rio.
Ela fica na zona portuária do Rio de Janeiro, limitada, sua frente e fundos, pela Av. Rodrigues Alves, onde nós estávamos, e a Rua Equador. À sua entrada tem uma passarela que fica sobre a Rodrigues e de frente para vários pontos de ônibus, onde num deles estávamos nós.

- Olha só, tá vendo aquele cara lá em cima da passarela?
- Tô...
- Então, eu ia dar uns tiros em você, se você corresse pra lá ele ia mandar chumbo em cima de você.

Parou a conversa e gentilmente gritou fazendo o sinal de PARE com a mão espalmada em direção à passarela:
- Espera, não é ele, não é ele não! (você tem que ler isso como se ele estivesse gritando com seu vozeirão africano bem no seu ouvido e ainda se sentindo feliz por isso, afinal,não podemos contrariar o cara, né?).

- Agora, tá vendo aquele cara dentro daquele carro em frente a calçada, lá do outro lado?
Voltou a proferir a mesma frase e gesto com vigor igual a anterior.
- Pois é, depois que eu atirasse em você ele ia vir aqui pra me pegar e ia de dar uns tiros de escopeta bem na sua cara.

Bom, só conheço a escopeta calibre 12 e seus efeitos dos jogos de video game, aí comecei a achar que esse cara era o meu herói.
Tudo resolvido, todo o mal entendido já havia sido desfeito, ele já havia desculpado, e se ele quisesse, até eu pediria desculpas por não ser o cara e estar ali desviando sua atenção do trabalho afinal a produção e eficiência são importantes numa empresa, seja qual for seu negócio, estávamos prontos para seguir nosso caminho, cada um o seu quando ele virou-se pra mim e disse:
- Olha, não tô te assaltando, não, mas não dá pra você me arrumar uma grana, uns dez reais, pra botar um gás no carro? É que a gente vai matar o cara ainda e tem que dar um "gás" pra sair da área...
- Ih, cara, não dá não, respondi, minha passagem quem vai pagar é o pastor tô sem grana...
- Tudo bem, tudo bem, já te incomodei demais (que isso..., nada...).

Levantou-se, olhando para os lados, e falou pra mim:
- Olha, vou ter que fazer o cara ainda, afinal, tenho uma filha pra sustentar, né? Você podia fazer um favor? Pediu educadamente.
Não dá alarme da gente aqui não, tá, que eu vou ali pra frente onde eu estava quando vi você, não quero cobrança do meu chefe.
E saiu andando fazendo sinal de tudo bem pra passarela e pra frente da rodoviária...
Afastei-me um pouco do local da conversa e não esperei o Magarça, peguei o primeiro ônibus para a estação de Campo Grande que passou.
Fiquei feliz em ficar naquele ônibus por quase duas horas, depois pegar a kombi, e andar por mais 10 minutos até a casa do pastor Paulo e Da. Celeste e abraçá-los.

sábado, 12 de março de 2011

PROIBIDO AMAR

Sábado nublado, pé doendo um pouco, mas a vida é bela e vamos em frente.

Acordei cedo e vi um filme com Richard Dreyfuss, "Proibido Amar".

Fala sobre uma família comum, drigida por uma mãe austera e fria, auto denominada "feita de aço". Seus filhos, todos têm problemas, um é ladrão, o outro é medroso, mas lutador pela vida  e a mais velha tem problema de afonia, perda da voz, quando encontra a mãe, pois quando era pequena a mãe, alemã rígida, tapou sua boca com um travesseiro. Mas o personagem mais interessante, é uma das irmãs, diagnosticada como "eternamente criança" pelos médicos da época.

A avó recebe seus netos por 10 meses em sua casa, pois o medroso tem que viajar para pagar os agiotas com que emprestou dinheiro. Daí a tia doida, e todos os demais, começam a interagir com as crianças.

Na visão da tia, tudo está sempre bom, mas algo incomoda e ela sonha. O sonhar não é permitido naquela casa, muito menos amar. Ela, 38 anos, com visão e vestes adolescentes, após muitas lutas, resolve deixar a casa da mãe ao perceber que seu caminho não precisa ser o mesmo da matriarca. Sai de casa e muda-se para Flórida, onde vai trabalhar num restaurante.

É interessante como as pessoas que sonham conseguem viver bem, sonhar faz bem ao coração e a alma, por isso nunca deixe de sonhar, sonhe coisas grandes e impossíveis, se possível, e ame muito, mesmo que os feitos de aço o chamem de louco.

*Devido às leis dos direitos autorais só coloquei o link.

http://www.youtube.com/watch?v=cgGdgxAcaLI

sexta-feira, 11 de março de 2011

Sendai


Acordei, e como faço geralmente, liguei a televisão para ver o jornal matinal enquanto tomo café. Assim que cliquei on, ela jogou a imagem de uma onda gigantesca varrendo uma cidade... Isso caiu sobre meu colo, assim, sem eu querer, um Tsunami na cidade de Sendai, Japão.

Talvez por ter participado de um espetáculo de título Tsunami, de autoria de Angélica Faria, sobre o evento acontecido na Indonésia em 2004, e ter conversado com algumas pessoas da Índia sobre o sofrimento naquele local, na época, mais os recentes acontecimentos no estado do Rio de Janeiro (que já foram esquecido pela mídia), ouvindo os relatos do meu filho, Igor, que esteve cooperando em Petrópolis, e ainda levado pelo sentimento de COMPAIXÃO total que minha igreja, PIB de São José dos Campos, tem como tema neste ano, o assunto está me tocando mais, principalmente pela previsão dada pelos governos de que as ondas chegarão ao Havaí, em 2h, e ao Chile, aproximadamente às 17h (horário de Brasília)...

O ato final do espetáculo trata do RENASCIMENTO, embora dolorido, é necessário.

Não podemos ir lá para ajudar neste momento trágico, mas podemos pedir a Deus que conforte as pessoas que lá se encontram e que as ajude a ter ter forças e esperança para renascer desta tragédia.

Todos temos um Tsunami pessoal e podemos renascer dele reerguidos pelo amor de Deus.


segunda-feira, 7 de março de 2011

Desfile Conexão Livre

Olá amigos, boa tarde. 
É Segunda de Carnaval e o povo do nosso amado Brasil cai na folia regada. 


Cidade Negra canta:  "Na quarta feira é a volta pra realidade que arde/ Acaba a comemoração apaga a televisão pra não gastar a eletricidade/
Como na Cinderela carruagem volta a ser abóbora/
E na favela o carro alegórico some/ E volta às sobras: sobra de feira, sobre de terra, sobra de chão/Sobre de lama, sobra de bala perdida, sobra de comida..."
                                  
 É isso, vemos ao nosso lado acontecer.
                                  


No meio disso tudo, um grupo de mais de 500 pessoas, eu e minha esposa entre elas, saiu às ruas de São José dos Campos para desfilar no Bloco Conexão Livre (PIB SJC), no REAÇÃO 2011.




Cantamos o enredo " O Amor Não Para".
É verdade, o amor de Deus não para de agir, pricipalmente durante o Carnaval. Foi legal ver as arquibancadas cantando que  "Jesus,  o Rei desta cidade..."


Tenho certeza que minha Quarta será de VIDA, não de cinzas.


Abraço.


*Veja o comentário da Jornalista Rachel Sherazade sobre o Carnaval.