quinta-feira, 21 de abril de 2011

Consulta

AGRADECIMENTOS

* Agradeço, em PRIMEIRO LUGAR, ao Senhor da minha vida, que meu deu forças para resistir fisicamente ao tratamento ao qual fui submetido.


* Agradeço também, aos meus pais Elias e Odylla, que me ensinaram a lutar pela vida desde cedo, à minha avó Zilda, que não me deixava entrar chorando em casa. "Homem tem que lutar", dizia ela.
* À minha esposa Ester que desde o dia 16 de Novembro de 2010, não passa um dia sequer sem cuidar do curativo no meu pé. Aos meus filhos Igor e Iani, às minhas irmãos Angélica e Bijoy, que providenciaram tudo para que eu me restabelecesse da melhor forma possível, a Ana, que cuidou de mim nos primeiros dias, Ângela, e à minha sobrinha, Michelle.
* Aos amigos que me visitaram: Maryhelen, produtora do STUDIO PIO PRODUÇÕES, ao Hélio Esperidião, do site ESTÁ NO VALE  (www.estanovale.com), à Silvia, do INSTITUTO INTEGRAR BRASIL ,Badary e Troy, ao Fred "Tedy".
Ao pessoal da PIB de SÃO JOSÉ dos CAMPOS: 

Pr. Carlitos, meu pastor, Pr.Conrado, meu líder do PG, ao Pr. Marcos Madaleno, por suas orações, apoio e palavras de incentivo, à Mari Ceruks, pelo carinho de permitir que nossas conversas se estendessem um pouco mais, ao Ricardo Alexandre, Lara Tolentino,  que vieram até minha casa para cantar comigo, ao Mauro, Victor Lopes, Leandro Rocha, Pr. Julio e Simone, Sinara, Fátima e Archanjo, Marcos Cardoso, ao pessoal que desceu as escadas com a cadeira de rodas na mão   para chegar ao Fundo do Vale no dia do desfile do REAÇÃO 2011, e a todos os amigos desta amada igreja.
* Aos irmãos do meu Pequeno Grupo:
Pr. Conrado e Márcia, Da. Mirdza, Gilcemar e Olívia, Da. Neide e Batista, Paulo e sua esposa, Nicolau e Marta, Lara e Tulio

CONSULTA


Na terça, dia 19, separamos todos os papéis necessários para a consulta do dia posterior. Tudo arrumado e combinado, apesar da chegada do longo feriado a partir de quinta e da consciência da perda da data original da consulta, que seria dia 13, iríamos à São Paulo para tentar encontrar com Dr. Sussumi, o mesmo que havia operado meu pé há 5 meses atrás.
Saímos de casa preparados para o engarrafamento natural da Dutra, optamos pela Ayrton Senna, muito mais tranquila e confortável, poucos carros nos acompanhavam. Não sei por que pegamos uma entrada errada na 23 de Maio e tivemos que fazer um retorno após um túnel, mas com tranquilidade. Chegamos à Borges Lagoa, 960, às 11:15h. Confirmamos nossa chegada com a recepcionista, descemos ao andar zero, onde deveria ser a consulta, aí começou a nossa espera.
Geralmente ele, o médico, chega à 12:30h, atende e vai para o centro cirúrgico, então seria tranquilo, não pegaríamos o volumoso trânsito na volta. Quando o relógio marcou 14h ele ainda não havia chegado, pensamos que não viria mais e fomos nos informar com as atendentes que confirmaram que ele viria mas não sabiam o horário, só nos restava esperar mais.
Às 15:45h uma das meninas pediu que subíssemos ao 5° andar, onde fica o centro cirúrgico, pois ele iria nos atender lá mesmo. Subimos, demos nosso papel de identificação na entrada do CC e aí o rapaz da recepção educadamente nos disse:
- Devido ao seu KPC, vocês vão ter esperar aqui fora.
KPC?????  E eu lá tenho KPC? O que que é isso? O que é KPC?
Encontrei esta figura que explica  o que é a tal bactéria, os riscos inerentes aos ao contágio e como ela é super resistente a antibióticos.
Basta dizer que durante o período em que estive internado, 25 dias, eram injetados em mim mais de 3L de antibióticos de última geração e amplo espectro por dia. tudo isso para salvar  minha vida, já que um exame, PCR, indicava que meu sangue estava 57% infectado. Quando os médicos, enfermeiros, entravam no meu quarto do isolamento tinham que colocar um avental específico para o não contágio, todo esse material não saía do meu quarto. Agora entendo a estranheza nas expressões deles ao me verem rindo ou brincando. Acontece que Deus, o Senhor da Medicina, que me ama, controla a história e fez questão que eu ficasse curado, não por que eu mereça, mas me curou  para SUA HONRA E SUA GLÓRIA.

Estávamos, eu e Ester, lendo o livro 40 DIAS DE RENDIÇÃO (Pr. Carlito Paes) quando às 17:10h aquele nissei baixinho e simpático apareceu do nada na nossa frente sorrindo naquela roupa azul de cirurgia e disse:
- Mas como é que vou consultar você aqui n corredor? Rsrsrsrsrsrs...
Ele disse isso rindo e fazendo um gesto meio patético abrindo as mãos, muito engraçado.
Continuou então:
- Não posso abrir o curativo aqui, mas como está? Já fechou?
Ester respondeu:
- Falta um pouquinho só...
Eu disse:
- Já posso até andar...
Levantei e caminhei um pouco com certa dificuldade.
Ele sorriu, seus olhos brilhavam de alegria, acho que até com  certa emoção ao me ver caminhando com equlíbrio e disse:
- Pra quem ia perder a perna você está muito bem...
Glória a Deus, eu e Ester dissemos juntos.
 Dr. Sussumi disse isso, parou e ficou sorrindo como se não acreditasse naquilo que via, eu andando novamente. Deus é bom!
Mandou marcar nova consulta para outra avaliação e retornou às mais de 15 cirurgias diárias que faz para salvar vidas como a minha.
Deixamos o hospital e voltamos sem pegar engarrafamento algum, sem nos perdermos, apenas demos de cara com um carro que vinha em alta velocidade na contra mão da Ayrton Senna na curva debaixo do viaduto na chegada da cidade, desviamos, ele seguiu seu caminho e nós o nosso.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Orkut ou Facebook, Qual a Sua Rede?




 Pois é..., sempre quis começar uma estória, com um "Pois é...", morei por 45 anos na Rua Boipeba, 160 em Mal. Hermes. Boipeba é uma corruptela de da palavra tupi “Mboi Pewa” que significa cobra chata e quando ia a algum lugar e faziam a pergunta: Qual o seu endereço? Eu respondia assim (tente ler soletrando, as letras grandes  e as vermelhas finalizando a leitura):
B - O - - I - boi - P - É - - B - A - , 160...
E ficava espera o "O que?!?!?!" que vinha da pessoa logo depois, rsrsrs..., e repetia novamente.

Calculadora TI-58
Morar lá desde criança foi muito bom, conhecia todo mundo, entrávamos nas casas dos amigos, sem cerimônia, éramos quase irmãos, bom, talvez quase primos. Nós tínhamos campeonatos de futebol na rua de paralelepípedo, campeonato de futebol de mesa (botão), jogávamos queimado até tarde da noite, pique esconde, pique tá, bandeirinha, jogávamos WAR, manhãs e tardes inteiras na casa da Da. Nira, xadrez, tempo bom.... A rua era uma festa, festa mesmo, nas casas, festa americana, no sábado, muito bom mesmo. À noite, sentávamos no meio fio, a turma toda ficava batendo papo, ia até meia noite. Quando nos encontrávamos novamente começava tudo de novo. As pessoas mais idosas me viram crescer, Da. Laura, Gilvanete, elas foram ao meu casamento e viram meus filhos nascerem, boas lembranças.
Os anos passaram, um a um e, de repente, vi-me envolvido por Ataris, Nitendos, Dream Casts, Playtations 1, 2 e 3, XBOX 360, quero ressaltar que não estou ganhando nada pela propaganda, rs... Na faculdade as calculadoras da Texas, as TI's, invadiam as salas com seu cartões de memória com so cáculos integrais pré-programados. Por último, não menos arrojados os telefones celulares Phones, Ipods, PC's, Notebooks e os recem nascidos Tab's.
ATARI
Com isso tudo surgiram novas fórmulas de relacionamento e atualmente uma batalha é travada pela hegemonia, e vocês estão acompanhando isso, os dois cavaleiros estão numa disputa silenciosa pelos "scraps" de todos nós. Tenho utilizado ambas as redes relacionamento, não com a destreza que deveria, mas mando meus recados.

Senti, ao longo do tempo, que as coisas foram mudando nos relacionamentos, estranhei quando meu amigo de Orkut mandava um "Passei aqui pra te dar um abraço..." e quando nos encontrávamos só apertava minha mão. Gosto do Facebook, mas gostaria mais que tudo que é escrito no mural de todos nós fosse dito ao vivo e a cores, não é uma crítica, só gostaria bem mais que fosse assim, bem mais que cinco minutos de conversa, ver as pessoas, sem pressa, sentadas em algum banco, talvez tomando um sorvete, falando de suas experiências diárias, comentando da prova, do namorado(a), contando piadas, dando gargalhadas abertas ao invés do "kkkkkk..." que usamos, falando sobre nada e sobre tudo. Devíamos ter o "Dia Semanal do Bate Papo sem Correria", seria bom.

Uso bastante as redes, estou usando agora, mas nada melhor que um abraço e um beijo no rosto.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ah, Tá...

Ah, tá... Recebo, faz, cinco anos, medicamentos de alto custo. Sempre realizando os mesmos exames e procedimentos, no mesmo intervalo de tempo e variando apenas alguns tipos de exame.
Pra você ter uma noção de como funciona este recebimento de remédio, tentarei explicar, mas não sei se vou conseguir.
Existe um documento padrão chamado APAC, Autorização de Procedimento de Alto Custo, que é usado para que os usuários de medicações de alto custo o retirem nos postos médicos ou locais autorizados para fazer a entrega do mesmo. Este documento deve ser renovado de 3 em 3 meses para evitar o desvio do dito medicamento, ou venda por vias outras, que como o próprio nome diz, custa muito caro. Uma caixa com 100 cápsulas pode até custar R$ 5.000,00 e durar 15 dias. Mas, pensar em desvio de um material como esse no Brasil???? Ah, que isso, pode acontecer na Bélgica, Suiça, até na Noruega, que diga-se de passagem é o país com maior qualidade de vida do nosso planeta, mas no Brasil? Ah, isso é que não. Daí o formulário para ser preenchido e anexado a um processo, este ser entregue a alguém na secretaria de saúde do estado e ali ser dado o veredictum: deferido ou indeferido.
Como disse, há cinco anos atrás , cumpri todas essas etapas e ganhei um grande SIM do governo.
Inicialmente retirava minha parte na Vila Mariana, SP, o que denodava tempo e paciência, pois saía cedo de São José dos Campos, eu/e/ou minha esposa. Lembrem-se que estamos falando do famigerado SUS que inunda nossas televisões com manchetes atrozes e ainda ressalto que a razão de submeter-nos a tanto sacrfício tem um motivo nobre: As pessoas que fazem uso de tais fármacos NÃO sobrevivem sem elas.
Passado o período de um ano de uso veio a descentralização da entrega, quer dizer, cada um receberia em sua cidade. Mas, sabe, foi melhor, embora temesse que meu processo pudesse sumir, desaparecer, escafeder-se, mas ele veio parar direitinho no NAC (Núcleo de Avaliação e Controle). Ótimo! Pegar o remédio perto de casa, menos estresse. Aí, ano passado, ele veio pra bem mais pertinho de casa, dá pra ir à pé no postinho, bem mais tranquilo, até que...

(Já viu nessas estórias quando surge um "até que"? Alguém vai se dar mal.)

Bom, até que, hoje, sem nenhum aviso prévio recebi, pelo telefone, que todo esse processo que é nossa rotina há cinco anos corre o risco de ser CANCELADO!
Entendeu? Não? Eu repito...
Bom, até que, hoje, sem nenhum aviso prévio recebi, pelo telefone, que todo esse processo que é nossa rotina há cinco anos corre o risco de ser CANCELADO!
Motivo: Os exames não estão completos?!?!?!

Mas, como? Como não estão completos? Entregos os mesmos exames há cinco anos e nunca ninguém reclamou e agora eles querem cancelar?

Amigos, isso é um desabafo, por que devido a isso, por não ter como recorrer de um processo sobre o qual não tenho domínio e cujos medicamentos tenho que pegar entre os dias 15 e 27 do mês vigente, terei que fazer com urgència, urgentíssima, um montão de exames amanhã para que sejam entregues daqui a um mês (observem que aí o prazo já expirou) para que não perca essa benesse do nosso governo.

Ah, tá, depois vou ao consultório, o médico verifica minha pressão e pergunta por que ela  está alta.










terça-feira, 12 de abril de 2011

UERJ - Janeiro de 2008

Em Janeiro de 2008, fui fazer um curso de Geografia e Música na UERJ, pelo Departamento de Geografia da mesma instituição. A época era de muito calor e o curso ia  todos os dias das 14h às 18h. Era um curso puxado, mostrava a música em relação à topofilia, isto é, aquele amor que você sente por sua terra, bairro ou alguma região, sabe, saudades do seu país. Também abordava como os compositores narravam os costumes do cotidiano através dos tempos e como isso revelava os marcos geográficos.
Citarei como exemplo da marchinha de carnaval LATA D'ÁGUA. 
Música composta em 1952, por Luis Antônio (Antonio de Pádua Vieira da Costa) e letra de Jota Júnior
“Na ocasião, capitães do Exército, servindo na Escola Especializada da Academia Militar, os dois passavam diariamente por um morro ao pé do qual uma bica servia aos moradores. A inspiração nasceria ao verem a cena que descreveram na composição: uma negra equilibrando uma lata na cabeça, enquanto levava uma criança pelo braço”.(SEVERINO e MELLO, 1997. p.292).

Eu chegava todos os dias às 14h, entrava pela porta lateral da faculdade, perto da passarela do metrô e acontecia de que nesse mesmo horário uma moça passava por mim, sempre à mesma hora. Não a conhecia, ela, naqueles dias, parava na porta de saída, ajeitava seu cabelo apressada e andava, quase correndo em direção ao portão da Radial Leste. Chamou minha atenção sua inquietude e resolvi escrever o texto abaixo. Não o entreguei, teria feito, mas no dia após a coclusão, 24/01/08, não a vi mais.
                                                CINCO DIAS                                              23/01/08

Há cinco dias, espero que sejam mais
Passo por ela, morena que não me vê
Lisos, curtos, negros cabelos
Lábios adornados em vermelho vivo
Para beijos e bocas que vão além
Quem é você? De onde vem a moça?
Imitando o carrossel, como brincando sem fim
Os dois descortinam o tempo
O menor indica o dois
Onde vai com tanta pressa?
Porque não para e sorri?
Deixe-nos ver seu rosto feliz
Vivido por muitas voltas
Anos, minutos, segundos momentos
O que estará pensando agora?
Desliza sua mão em alguém?
Com sorriso gostoso ilumine as respostas que não temos


O curso terminou e não tive a oportunidade de entregar o texto a ela.





domingo, 10 de abril de 2011

Malco, Você Quer Se Balbear?

Fomos convidados a cantar em Volta Redonda, terra da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o Grupo Videira estava bombando em 88, fazia, acredite, mais de 300 apresentações por ano, cantando de Quinta à Segunda. E em VR  não foi diferente, nos apresentamos diversas vezes naquele final de semana.
Uma característica era inconfundível no grupo: A amizade e simplicidade. Ìamos onde tínhamos que ir, cantávamos com alegria a alegria das nossas músicas. Violão, violão de 12 e viola de 10 cordas, cavaquinho, gaita e acordeão, fora a percussão, que o Malco tocava. O nome dele era Marcos, mas nessa viagem isso mudou.


Fizemos o de praxe, chegamos e fizemos as duplas para dormirmos na casa dos membros da igreja que tão carinhosamente nos acolhiam, e como sempre, eu e Marcos ficávamos na mesma casa. Era engraçado por que nos conhecíamos tão bem, que só no olhar já entendíamos o que fazer. Ele, brincalhão até não poder mais e eu era quem "levantava a bola" para ele completar a piada. Fazíamos isso sempre, até quando íamos resolver alguma coisa no banco e ficávamos conversando sobre nossos carrões, casas de cinco quartos com piscina, morando em Ipanema, viajando para Europa, rsrsrsrsrs... Tudo brincadeira... E quando sentávamos um ao lado do outro e cruzámos e descruzámos as pernas ao mesmo tempo, juntos, sincronizados, rsrsrsrs..., sem falar nada um para o outro e as pessoas em volta olhando aquilo sem entender nada, às vezes gerentes ficavam vendo aquilo... Ai, meus 20 e poucos anos (sem nenhuma referência à música do Fábio Jr.).
Chegamos na casa onde ficaríamos. Lembro que fomos para a casa de duas irmãs, morenas, baixas, muito legais. Mais tarde encontramos o irmão delas, conversamos, todos, até alta noite. Depois disso tudo, de elas terem colocado os lanches e termos ouvidos as histórias de caminhoneiro (ele era caminhoneiro, contou suas aventuras, e foram muitas) fomos dormir, isto é, tentar dormir.
Começamos o papo da noite:
- Pô, Marcos, você ouviu?
- Cara, acho que ouvi, sim...
- Não tinha um som esquisito quando o irmão delas falava?
- Pô, tinha sim, era estranho, eu ficava olhando pra você...
- Pois é, "rapá", mas não consegui identificar o que era...
- Era quando ele falava - Marcos comentou.
- Bom, vamos dormir - falei - amanhã é Domingo, temos que chegar cedo na igreja pra arrumar o material.
Dormimos...

Acordamos cedo e começamos a nos arrumar. Marcos tinha uma mania, de se barbear sempre, e eu como sabia disso sempre levava um barbeador comigo. Mas naquele dia esqueci, deixei para comprar antes de sair e esqueci.Marcos entrou no banheiro já prontoe perguntou:
- Pô, Alexandre, (ele sempre começava a frase com um "pô") você tá com o barbeador aí?
- Ih, cara, esqueci...
Aí, ele começou a passar a mão no rosto, incomodado com a barba, nisso, o irmão das meninas, que também estava se arrumando para mai uma viagem, entrou no banheiro, e falando alto perguntou:
- Ô, Malco, você quer se balbear? Se balbeia com o meu balbeador.
Quando ouvimos isso, olhamos um para o outro, eu me contive, mas ele amigo, com aquela voz de baixo profundo, soltou uma gargalhada (KKKKKK), que aí não me aguentei e também comecei a rir, na frente do cara. Descobrimos o som indeterminado.

A partir daí o Marcos, passou a ser o Malco. Foi "Malco" o tempo todo. Malco isso, Malco aquilo, Malco pra lá, Malco pra cá, e depois de cada um um montão de risadas...
São histórias que até hoje rondam nossa memória c ada vez que nos encontramos.
Malco, o melhor vendedor que já vi, hoje trabalha em uma grande empresa de TV à cabo, é casado com Edna, tem dois filhos, e deixou de ser percussionista para se baterista. Estamos tentando nos encontrar, e quando isso acontecer, com certeza a história do "balbeador" vai acontecer mais uma vez.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Caio dos Óculos Ray Ban

Em 1990, ano de Copa do Mundo, comecei a trabalhar em uma empresa na área de processamento químico. Uma experiência nova, pois não tinha nem noção do trabalho e do processo, fora o curso que havia feito na mesma empresa, mas algo me chamou atenção: O salário era muito bom, valeria à pena.
Já havia trabalhado como supervisor de manutenção coordenando equipes multi funcionais em duas empresas grandes: Uma, líder no setor de informática no anos 80, e outra, um hospital classe AAA, hoje clínicas integradas, situado nos caminhos da Gávea, mas em nenhuma delas ganharia o que receberia nessa, nem que fosse promovido 4 vezes. Submeti-me aos cursos, testes, treinamentos fortes, e fui em frente, passei. O tempo foi passando, novos amigo sugiram.
Um desses amigos me dava carona, revezámos nisso, vou chamá-lo Caio, este nome é fictício. Às vezes meu carro quebrava, o que não raro de acontecia com aquele Corcel II LDO, ano 79, que uma vez rompeu a borracha da gasolina às 10h da noite em frente a comunidade de Barros Filhos, na área escura da Av. Brasil, me deixando na mão, e em outras, o carro dele dava pane e e aí eu o levava e trazia. O dele era um Passat 77, só carrão no esquema.

O sistema de revezamento da alimentação era de certa forma rígido, pois trabalhávamos em turno e sempre com a possibilidade de haver algum problema na planta no momento de ausência da equipe.  Muitas vezes, em 12 anos de empresa, participei da saída em disparada na direção das bombas e fornos após um simples piscar de lâmpadas. A senha era: PIQUE DE LUZ! E todos saíamos correndo, cada um para seu setor a fim de evitar danos, em geral fazíamos isso com eficiência, não havia espaço para erros.
Naquela noite, pois estávamos tirando um "zero hora" tranquila (íamos das meia noite às seis da manhã), e lá pelas 02:30h nos reunimos no "fumador" (o fumador era um local onde os apreciadores do hábito podiam desfrutar de sua fumaça com liberdade e sem risco de "flashear"). Sentávamos todos ali para ouvir e contar histórias, jogar conversa fora, ficar quietos pensando em nada, se bem que, nesses momentos, sempre aparecia um maluco vindo de não sei onde e fazia algo que despertava todo mundo. Uns ficavam no banco do fumador, acomodação para 2, 3 já ficava apertado, e outros ficavam em volta da casinha e outros se recostavam numa tubulação que recebia óleo dos navios enquanto desempenavam as costas.
Caio, que quase sempre sentava no fumador, me chamou com um sinal feito com a mão que empunhava o cigarro, para conversar.
Ele estava menos brincalhão do que o costume. Seus óculos escuros, que, não sei por que, sempre usava à noite, escondia seus olhos. Começamos falando sobre nada, daí passamos para as festas que ele ia, e finalmente o assunto foi o Cordão do Bola Preta, um clube na 13 de Maio, "O Quartel General do Samba".


Ele começou a contar sua história, de como saia e curtia as noites com o "pessoalzinho", e que numa dessas saídas do Bola, já nascendo o dia, estava muito triste e infeliz com sua vida e, após beber muito, saiu do clube desnorteado, com uma garrafa de bebida na mão, e rumou ao ponto na Av. Rio Branco, atravessando a Cinelândia até sentar no meio fio e ficar pensando em dar fim à vida jogando-se à frente de um ônibus. Nisso, contava, ele, um rapaz de pele clara, muito clara, de olhos azuis e roupa branca, sentou-se ao seu lado no meio fio e perguntou:
- Mas, por que você está querendo fazer isso?
Era como se lesse sua mente e soubesse da sua vontade de se jogar em baixo de um ônibus.
- Caio (falou colocando a mão em seu ombro enquanto com a outra tirava a garrafa deu sua mão), vá pra casa... Vá ficar com sua esposa e sua filha, tudo vai melhorar a partir de hoje...
Falou isso, levantou e saiu.
Ele contava isso pra mim me olhando com seus óculos Ray Ban de lentes marrons e armação dourada, dizendo que sua vida tinha mudado mesmo. De repente, parou...

Depois de uma longa pausa e silêncio de ambos, ele rompeu o tempo, fazendo aquela pergunta estranha, virando sua cabeça em minha direção com seu pescoço gordo:
- E você quando é que vai aparecer na quinta, no quinto andar daquela empresa pra reunião? O pessoal tá te esperando lá, você já não leu o livro?
Péra, péra, péra... Que que é isso?!?!?! Que papo é esse?
Isso é que se passava na minha cabeça enquanto ele tirava o Ray Ban do rosto e o balançava pela haste como se nada tivesse acontecido, enquanto aguarda a reposta... Resposta que nunca teria, pois, para minha salvação, fui chamado pelo rádio para realizar uma manobra, pedi licença e me dirigi ao setor com minha mente a mil.
Passou o turno, veio o folgão, que começava na quinta, e na segunda voltamos todos às 18h. Início normal mas a notícia já corria pelos amigos, Caio havia pedido demissão no último zero hora, naquela quinta. Havia esperado os chefes e comunicado que não retornaria mais ao trabalho, sem motivo algum.

Se você quer saber, li todos os livros, nunca fui a uma reunião no quinto andar, continuei  comprando livros na livraria do Madureira Shopping, onde ganhava excelentes descontos por ser cliente assíduo e nunca mais encontrei Caio.